Normalmente quando se fala em educação, se põem uma série de obstáculos, de possibilidades, de “ismos” e relativismos, onde quase sempre se fecha o debate deixando para que a posteridade encontre a solução.
Proponho deixar de lado nosso orgulho e vaidade de seres pseudo civilizados, que não se permite recuar para rever conceitos. Principalmente conceitos que nos distanciam do estado de natureza que nos é próprio, e que nos esforçamos para negá-lo. Assim como, no nível pessoal negamos nossos complexos que acabam por se exteriorizarem em formas patológicas.
Precisamos sim, admitir os equívocos que cometemos, na tentativa de subjugar a natureza, acabando por negar a própria natureza humana. O que culminou na construção de modelos e padrões artificiais, tornando a própria vida artificial e sem sentido. Não estamos distantes do modelo de homem preconizado por Huxley em “Admirável mundo novo”. Criamos a produção em série, e achamos tão belo o que fizemos que, nos tornamos imagem e semelhança da nossa própria criação.
Num lapso de “loucura” alguns psicólogos sugerem o fim da adolescência. “Loucura acertada”. Eu explico! Parece desvario, mas é assim que muitos estão recebendo tal proposta, como loucura, simplesmente porque, acredita-se ser a adolescência um estágio natural, e não o é. A adolescência tornou-se um estado de latência artificialmente conduzido pela sociedade capitalista, onde se mantém o jovem “incubado” enquanto não se define o seu papel no mercado. É claro que nada disso está explícito, o que nos faz pensar que esta fase confusa e indefinida que vivenciamos após a puberdade é algo natural.
O que ocorre é que, nessa faixa etária não se tem clareza do próprio papel social. E quanto mais rápidas se processam as transformações no setor produtivo, mais indefinida se torna esta fase. Porque o indivíduo precisa se moldar segundo as necessidades do mercado que é indefinido por sua própria natureza.
A proposta é interessante porque pela primeira vez, após ter-se desencadeado o processo de produção capitalista estamos sendo obrigados a nos confrontar diante do espelho. Estamos diante da oportunidade de saber quem somos de verdade, ou pelo menos adquirir consciência desta “coisa” a que nos tornamos. Isso porque, a sociedade capitalista “coisifica” as pessoas, usa e descarta.
O momento é apropriado para nos redimir diante de nossos irmãos indígenas e aprender com sua cultura, em cujas sociedades não há a chamada adolescência, mas um ritual de passagem, através do qual se introduz o jovem índio às responsabilidades para com o grupo. Isto só é possível porque nessas sociedades existe clareza do que se espera desse jovem. Enquanto que na sociedade capitalista o jovem fica a mercê do mercado e suas tendências, as mais variadas. Orientadas segundo os interesses dos donos dos meios de produção, que, primeiramente definem como pretendem direcionar a produção, para em seguida, direcionar o sistema educacional para formar e selecionar aqueles que irão servi-los.
Nesse caso o sistema educacional se iguala às fabricas de peças de reposição para a manutenção do setor produtivo, perdendo assim o seu caráter humanizador.
A propósito, o objetivo deste ensaio é abordar a educação no seu aspecto mais amplo, e esta não se inicia na adolescência, mas a produz como consequência. E mais uma vez invoco aqui a organização indígena. Afinal, como é que uma criança aprende a ser índio? A resposta poderia ser que, na tribo a criança já nasce índio por ser filho de índio. Engano, a criança aprende a ser índio convivendo com índios. Índios das várias faixas etárias, todas pelas quais ela passará no decorrer de sua existência.
Observando o adulto a caçar, pescar, plantar. Aprenderá brincando de caçar e de pescar. Quanto ao plantar, possivelmente, jogará sementes em lugares os mais estranhos possíveis aos olhos de um adulto “civilizado”, mas que também estará enriquecendo sua experiência.
Contrariamente, nossas crianças são alienadas do convívio da família, que por sua vez, também é alienada em vários outros aspectos, por já serem frutos desse sistema, em que a alienação é a regra. A criança é terceirizada, seja aos cuidados de creches, jardins, pré-escolas ou babás. Quanto às babás há um agravante, não há o compromisso de transmitir nada à criança, apenas garantir que esta seja entregue inteira aos pais no fim do dia. E neste caso o melhor a fazer é induzir a criança a dormir, ou entretê-la com músicas e/ou programas infantis. Ou seja, não há uma programação efetiva para a construção da identidade da criança.
É exatamente na infância que o modo de produção capitalista mostra o quanto é perverso. O sistema se desenvolve na medida em que gera e consolida os nichos de mercado, de produção e consumo. E a infância se revela cada vez mais um excelente nicho de mercado. Logo, porque não prolongá-la.
Enquanto que nas sociedades indígenas existe uma relação natural da criança com os demais componentes do grupo, na sociedade capitalista criou-se um mundo à parte para a infância, artificialmente projetado, onde a criança não tem acesso às experiências vivenciadas pelos adultos. Portanto, pouco ou nada aprendem sobre o mundo dos adultos. Mesmo porque, quando crescer esse “mundo” não mais existirá, será algo novo, com novas demandas, que terá que enfrentar sozinho, porque seus pais também não reconhecerão esse novo mundo, apesar de terem ajudado a construí-lo.
Como vemos, é cômodo e interessante para o sistema manter o indivíduo infantilizado. O que se consegue manter artificialmente até a puberdade, quando os vícios do consumo já se encontram consolidados. Daí, basta conjugar os recursos promocionais para explorar os desejos instintivos que afloram nessa fase libidinosa, sedenta de novidades e realizações à curto prazo, ou melhor, imediatas. Que podem ser satisfeitas pela variedade de produtos MADE IN.... Ahh..., a educação! Educar para quê mesmo?
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