Seguindo o raciocínio de Freud em “Divagações de um estudante”, fica mais fácil a compreensão do comportamento de alguns alunos. Pois, percebe-se que boa parte deles se relaciona de forma muito carinhosa até, com alguns professores, enquanto são arredios e muitas das vezes até agressivos com outros. Agravando ainda mais esse comportamento quando o professor se impõe e cobra disciplina de suas turmas.
O que nos escapa às vezes é que os alunos nos identificam com a relação de autoridade que vivenciam em seus “lares”, trazendo para a sala de aula os conflitos internos da sua vida familiar. Transferindo para o professor o amor ou o ódio que alimenta em relação a seus genitores.
Considerando que a figura paterna tem deixado a desejar em suas atribuições, que segundo o próprio Freud é responsável pela formação do superego – estrutura da personalidade apropriada para lidar com as frustrações causadas pelo “não” – não justifica, mas explica em parte a dificuldade, não apenas das escolas, mas de todos os níveis institucionais que tem funções disciplinadoras, em lidar com os adolescentes. Devido à personalidade deformada na família pela ausência de algum dos atores responsáveis pela sua formação.
Deparamo-nos frequêntemente, com expressões do tipo “pãe”, por alguém que se diz exercer dupla função de pai e mãe, ou seja, supre as necessidades materiais e afetivas dos filhos. Sendo que, para satisfazer as necessidades materiais se ausenta do convívio com a criança ou adolescente, causando um grande vácuo afetivo, não detectável na própria família, por ser mascarado pelas aquisições de bens materiais que mantém uma relação de consumo entre “pães” e filhos.
Enquanto o adolescente tem financiada a sua aparência e garante a participação em um grupo da mesma faixa etária, não percebe a mutilação em sua personalidade. Isso apenas ficará perceptível para ele quando se deparar com níveis de autoridades que não se assenta na relação de escambo, de troca material.
O incrível é que, de alguma forma eles conseguem submeter a escola a seus caprichos, quando fazem com que o professor negocie com eles, atividades por notas. É a escola dando sequência a pedagogia do suborno, que se inicia na família.
"TODA A NOSSA EXISTÊNCIA É UMA BUSCA. MESMO QUE NÃO TENHAMOS CONSCIÊNCIA DAQUILO QUE BUSCAMOS."
segunda-feira, 26 de outubro de 2009
quinta-feira, 1 de outubro de 2009
MATÉRIA OU DISCIPLINA
Numa de minhas aulas, apanhei-me partilhando uma reflexão com os alunos. Logo após o acontecido me toquei que se trata de uma reflexão que pode interessar a mais pessoas, desde que estas estejam de fato interessadas em encontrar caminhos para humanizar nossa educação.
Pois bem, apesar da pouca idade de nossos alunos, perguntei-lhes se sabiam a diferença entre disciplina e matéria. Já que na linguagem corrente todos costumam falar da matéria de cada professor. Sugeri pensarmos juntos sobre o caso.
Não faz muito tempo, costumávamos usar a expressão “disciplina” para designar o que seria oferecido em cada aula, por cada professor. No entanto, essa expressão veio caindo em desuso, até mesmo entre os profissionais da educação. Por quê? Eis a questão!
Enquanto as informações circulavam no ritmo dos recursos convencionais, digamos assim. O professor atuava de forma a disciplinar o estudante, ou seja, iniciá-lo na metodologia necessária e apropriada para assimilar os conteúdos da sua área, visto que, todo ramo das ciências exige métodos próprios para sua apropriação.
Com o passar dos tempos, as últimas décadas principalmente, o ritmo da vida se tornou mais acelerado, impulsionado pelo desenvolvimento de novas tecnologias e novas formas de se produzir, divulgar e transmitir conhecimento. A quantidade e a velocidade da informação vêm gerando uma grande confusão na cabeça das pessoas. É assustador a forma massificada com que passamos a lidar com o conhecimento, e a dificuldade que isso impõe ao educador, no momento em que precisa delimitar seus conteúdos programáticos. Quando se depara com suas limitações humanas e temporais diante de um ritmo de vida artificial que se impõe a cada dia. Fazendo com que a cada dia também este profissional se sinta cada vez mais impotente.
Penso que já temos “subsídio”, com o perdão da palavra, para pensarmos o que seria “matéria” dentro desse contexto. Matéria é nada menos que a perda de referência do professor dentro de um turbilhão de acontecimentos, de produção e circulação de informação.
O engraçado é que os professores de química normalmente falam sobre isso em suas aulas introdutórias, passando para os alunos o conceito de matéria: “tudo o que tem massa e ocupa espaço”. Como foi que permitimos que um conceito tão genérico fosse utilizado para designar o objeto da nossa ação educadora e “disciplinadora”.
Talvez esteja aí a expressão da perda de referência e identidade do profissional da educação. Talvez seja o momento de retomarmos o caminho da disciplina, não aquela dos moldes militares que a confunde com obediência e subordinação, mas como método e organização da estrutura cognitiva do estudante para assimilar a lógica de cada área do conhecimento humano. Não mais entorpecê-los com uma quantidade excessiva de conteúdos que jamais adquirirão um significado em suas cabeças, por ser muito conteúdo e pouca fundamentação.
Apesar do volume da obra, esta é a proposta sobre a qual Gardner discorre em “O Verdadeiro, o Belo e o Bom” ( leitura obrigatória ).
Pois bem, apesar da pouca idade de nossos alunos, perguntei-lhes se sabiam a diferença entre disciplina e matéria. Já que na linguagem corrente todos costumam falar da matéria de cada professor. Sugeri pensarmos juntos sobre o caso.
Não faz muito tempo, costumávamos usar a expressão “disciplina” para designar o que seria oferecido em cada aula, por cada professor. No entanto, essa expressão veio caindo em desuso, até mesmo entre os profissionais da educação. Por quê? Eis a questão!
Enquanto as informações circulavam no ritmo dos recursos convencionais, digamos assim. O professor atuava de forma a disciplinar o estudante, ou seja, iniciá-lo na metodologia necessária e apropriada para assimilar os conteúdos da sua área, visto que, todo ramo das ciências exige métodos próprios para sua apropriação.
Com o passar dos tempos, as últimas décadas principalmente, o ritmo da vida se tornou mais acelerado, impulsionado pelo desenvolvimento de novas tecnologias e novas formas de se produzir, divulgar e transmitir conhecimento. A quantidade e a velocidade da informação vêm gerando uma grande confusão na cabeça das pessoas. É assustador a forma massificada com que passamos a lidar com o conhecimento, e a dificuldade que isso impõe ao educador, no momento em que precisa delimitar seus conteúdos programáticos. Quando se depara com suas limitações humanas e temporais diante de um ritmo de vida artificial que se impõe a cada dia. Fazendo com que a cada dia também este profissional se sinta cada vez mais impotente.
Penso que já temos “subsídio”, com o perdão da palavra, para pensarmos o que seria “matéria” dentro desse contexto. Matéria é nada menos que a perda de referência do professor dentro de um turbilhão de acontecimentos, de produção e circulação de informação.
O engraçado é que os professores de química normalmente falam sobre isso em suas aulas introdutórias, passando para os alunos o conceito de matéria: “tudo o que tem massa e ocupa espaço”. Como foi que permitimos que um conceito tão genérico fosse utilizado para designar o objeto da nossa ação educadora e “disciplinadora”.
Talvez esteja aí a expressão da perda de referência e identidade do profissional da educação. Talvez seja o momento de retomarmos o caminho da disciplina, não aquela dos moldes militares que a confunde com obediência e subordinação, mas como método e organização da estrutura cognitiva do estudante para assimilar a lógica de cada área do conhecimento humano. Não mais entorpecê-los com uma quantidade excessiva de conteúdos que jamais adquirirão um significado em suas cabeças, por ser muito conteúdo e pouca fundamentação.
Apesar do volume da obra, esta é a proposta sobre a qual Gardner discorre em “O Verdadeiro, o Belo e o Bom” ( leitura obrigatória ).
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